Seminário: Lançamento do Sumário Executivo do GT2 - Primeiro Relatório de Avaliação Nacional do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas
25 de outubro de 2013, FBDS, Rio de Janeiro, RJ
Frente às interferências das ações humanas sobre o ambiente - que atingiram escala global e magnitude sem precedentes, afetando o funcionamento natural do sistema climático - os formuladores de políticas públicas e a sociedade em geral necessitam de informações objetivas sobre as causas das mudanças climáticas, seus impactos ambientais e socioeconômicos e as possíveis soluções.
Com base nisso, o Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC) foi estabelecido, nos moldes do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, em inglês). O papel do PBMC é reunir, sintetizar e avaliar informações científicas sobre os aspectos relevantes das mudanças climáticas no Brasil. O Sumário Executivo do GT1 – Base Científica das Mudanças Climáticas, do Primeiro Relatório de Avaliação Nacional do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas foi lançado no dia 09 de setembro e está disponível para download.
O evento de “Lançamento do Sumário Executivo do GT2 – impactos, vulnerabilidades e adaptação” será realizado no dia 25 de outubro, das 10 às 12:00h, na Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável, R. Engº Álvaro Niemeyer 76 - São Conrado, Rio de Janeiro.
Programação:
Horas | Dia 25/10/13 - Sexta-feira |
9:00 - 10:00 | Welcome coffee e registro |
10:00 - 11:00 |
Apresentação dos resultados do Volume 2 - Impactos, vulnerabilidade e adaptação - Lançamento do Sumário Executivo GT2 Dr. Israel Klabin - Presidente da Fundação Brasileira parao desenvolvimento Sustentável - FBDS Suzana Kahn – Presidente do Comitê Científico do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas Andréa Santos - Secretária Executiva do Painel de Mudanças Climáticas Darren Evans - Assessor para Mudanças Climáticas e Segurança Alimentar, DFID Eduardo Assad - Coordenador do Grupo de Trabalho 2 do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas/EMBRAPA Cynthia Rosenzweig – Pesquisadora Sênior do NASA Goddard Institute for Space Studies, USA |
11:00 - 11:30 | Discussões |
11:30 - 12:00 | Coletiva de Imprensa |
Informações: (21) 3322-4520 – Liana ou Patrícia / andrea.painel@pbmc.coppe.ufrj.br
Agenda do Lançamento do Sumário Executivo do GT2
Clique na imagem para visualizar o Sumário Executivo do GT2:
Por Vanessa Barbosa
São Paulo – Quantas vezes você já não ouviu dizer que o Brasil será um protagonista no debate sobre clima no mundo? Mas, entre a promessa e o fato, surgem as controvérsias. É um cenário que nasce de um “apagão de coordenação climática”, diz Suzana Kahn, presidente do Comitê Científico do Painel Brasileiro de Mudança Climática.
Autoridade no assunto, ela diz que o país dá sinais trocados – que ser protagonista ambiental, mas reduz imposto de carros e promove termelétricas a carvão. “O Brasil precisa encontrar uma direção, definir o que quer ser quando crescer”, afirma.
Suzana conversou com EXAME.com sobre o quinto relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), que será apresentado nesta sexta-feira em Estocolmo, na Suécia, e que conta com contribuição de cientistas brasileiros. Na entrevista, falou dos polêmicos céticos e negacionistas do clima, de política econômica e sobre o papel contraditório do Brasil na dicussões ambientais.
EXAME.com – É comum confundir o IPCC, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU, com um único estudo científico sobre clima, quando na verdade é uma compilação de milhares de pesquisas. Você pode explicar como ele funciona de fato?
Suzana Kahn - O IPCC foi criado pelas Nações Unidas para tirar as dúvidas que existiam sobre clima em 1988, principalmente com o surgimento dos estudos sobre aquecimento global, que é um problema que afeta todos os países. O relatório em si é feito por cientistas, mas o que consta no sumário do relatório passa pelo escrutínio dos governos que compõem as Nações Unidas e é aprovado por eles.
Outra questão que gera confusão é que não produzimos material novo. Os cientistas compilam tudo que foi dito sobre o assunto e ponderam em cima disso. Mais de 200 autores coordenadores estão envolvidos na confecção do relatório, que é baseado em cerca de 9.000 estudos científicos e milhares de comentários de especialistas.
EXAME.com – Qual o grau certeza e incerteza do relatório sobre as mudanças climáticas?
Suzana Kahn - O que estamos dizendo é que o CO2 está gerando um desequilíbrio. De uma forma muito simples, estamos tirando toneladas de carbono que estava estocado na natureza, na forma de carvão, petróleo, e lançando na atmosfera, o que altera a composição da atmosfera. É claro que isso vai ter um impacto. Agora o impacto é de quanto? Quanto a isso não temos muita certeza. Mas evidentemente estamos mexendo com coisas muito perigosas. Nem que seja pelo princípio da precaução, é preciso agir. Você vai entrar num avião que tem 5% de chances de cair? E a gente está falando de um percentual que é o contrário - o grau de certeza do aquecimento global é de 95%.
O que você tem ainda na questão climática no nível de incerteza é o que esse sistema vai provocar em outros sistemas envolvidos. A temperatura conseguimos dizer com certeza que está aumentando e que a concentração de CO2 também está. Agora, ainda não conseguimos dizer com precisão onde exatamente vai chover mais, e onde vai chover menos. Outra incerteza é quanto aos efeitos dessas transformações em nível regional. Porque você trabalha com médias, o que difuculta saber o que vai acontecer com uma determinada região.
EXAME.com – Mas o princípio da precaução não acaba sendo deixado de lado tendo em vista que os riscos climáticos são apresentados como algo para daqui a 30 ou 50 anos?
Bom, você não sabe exatamente quando seu dano vai acontecer porque ele não vai acontecer de imediato, ok. Mas algumas decisões que os países e governos tomam hoje vão ter impacto muito grande no longo prazo. Se você decide construir uma termelétrica, você vai ficar com ela por pelo menos 30 anos. Se um país investe num parque tecnológico que pode ficar obsoleto em breve, ele está assumindo o risco.
Se ficarmos dizendo que precisamos de energia a qualquer custo, porque é mais barato investir em termelétrica a carvão, por exemplo, isso vai nos levar àquilo que chamamos de “efeito aprisionamento”, você fica com uma porção de tralha velha, que depois pra mudar vai ser muito mais caro. Essa é a diferença de um país ser protagonista ou figurante.
EXAME.com – Como o Brasil pode ganhar mais voz nesse debate? Rececentemente, tivemos leilão de energia nova, onde as termelétricas a carvão participaram da disputa. Não é contraditório?
Suzana Kahn – O Brasil dá sinais trocados a toda hora. A gente reduz IPI de carro pra todo mundo ficar engarrafado o trânsito. Estamos sofrendo um apagão de coordenação climática. A questão ambiental tinha que sair do Ministério do Meio Ambiente e ir para o núcleo duro do governo, que envolve a economia. Se isso, pode esquecer o clima, economia verde, etc, tudo isso vira uma questão de minoria. Meio ambiente é economia, desenvolvimento, é o Brasil se perguntar o que quer pra daqui a 20 anos. Eu vejo isso mais claramente na China do que aqui. Os chineses estão investindo pesado nas renováveis, apesar da dependência que têm nas fontes sujas. Um país em crescimento como a gente tem que ter direcionamento.
EXAME.com – Já saíram algumas prévias do quinto relatório do IPCC. E as notícias não são nada boas. Será que a pauta ambiental volta ao topo da agenda dos governos?
Suzana Kahn – Eu acho que por conta do relatório não. O impacto que o quarto relatório teve, em 2007, não vamos mais conseguir ter. Na ocasião, houve uma grande surpresa. Mas hoje, com a facilidade de acesso à informação que temos, as previsões estão aí e são conhecidas. Na realidade, ele está confirmando o que já sabíamos.
Agora o que eu acho que o relatório pode fazer é mostrar que o último relatório, de 2007, estava certo. O quinto relatório não só confirma como piora um pouco mais a situação.
EXAME.com - A crise de reputação do IPCC vai ser superada aí? [Em 2007, cientistas admitiram falhas de fundamentação cientifica nas advertências sobre o degelo no Himalia]
Suzana Kahn - Sim. Eu acho que esse é o grande ganho desse novo relatório. Passados vários anos desde o último estudo, um novo grupo de trabalho reitera várias evidências alarmantes. Há uma coerência no que foi dito sobre praticamente todos os temas. Restaurar essa credibilidade será um grande ganho.
EXAME.com - Ainda há espaço pros céticos na discussão climática?
Suzana Kahn - Não podemos colocar todos os céticos no mesmo saco. Há alguns que só querem causar polêmica e outros que não, embora não se digam descrentes do aquecimento global, discordam de alguma evidências ou da metodologia, do modelo utilizado.
Existe esse espaço pros céticos por várias razões. Primeiro pela petulância e arrogância de muitos cientistas, pelo jeito profético com que muitos falam, às vezes, como senhores do universo.
Acho que isso provoca uma reação e uma antipatia por parte de quem dúvida e acaba abrindo espaço para negacionistas. Outra questão é que você não dá muita alternativa. É um discurso negativo né, de que o urso polar vai desaprecer, as geleiras vão derreter, o calor vai ficar infernal, é ruim ouvir isso. Então, discursos que constestem isso são bem recebidos também. É mais gradável de ouvir e pensar “ah, que bom, então eu posso continuar comprando meu carrinho, queimando todo combustível, sem me preocupar com o fim da terra..”
EXAME.com - O derretimentimento do permafrost e a liberação de gás metano não serão contemplados nesse novo relatório, por quê?
Suzana Kahn - No ciclo do relatório, o estudo não conseguiu ser contemplado porque foi lançado tardiamente, e não daria tempo de passar na mão de todos os cientistas. Por isso que eu disse que, por conta da velocidade com que a informação circula hoje em dia, esse quinto relatório não deve causar tanto barulho, tanto impacto. Nem bem ele surge, já tem informação nova aparecendo e que não dá tempo de incluir.
EXAME.com - Você comentou sobre o papel dos governos na construção desse documento. E eles fazem ressalvas ao sumário. O IPCC não acaba sendo conservador, já que tende a um denominador comum?
Suzana Kahn - Com certeza, é isso mesmo. Tem umas coisas até curiosas. No outro relatório que eu participei, que era de fontes renováveis, eu tinha colocado uma frase sobre biocombustíves, que eu não lembro agora qual foi, e recebi vários comentários, uns dizendo que era um absurdo, outros dizendo que era para colocar mais coisa.
O Brasil, por exemplo, defende com unhas e dentes a questão do biocomustiveis, já os alemães tem toda antipatia, dizem que estamos desmatando tudo, e nós, como coordenadores, tinhamos que respoder a isso tudo.
EXAME.com - Esse é um documento importante para a Convenção Quadro nas Nações Unidas. Não é frustrante ver que apesar das evidências contidas ali, os governos não conseguem chegar a um acordo para redução de emissões realmente efetivo?
Suzana Kahn - É frustrante sim. Mas o que é interessante é que no processo de elaboração, você lê muita coisa. Porque o que vai pros governos é o sumário. Os relatórios estão lá, mas ningém aguenta lê porque são muitas páginas. Pra quem trabalha em pesquisa e quer estudar o assunto, é interessante. Em termos intelectuais, é incrível. Em termos políticos, você não consegue interferir tanto, é um processo muito vagaroso. Quando eu era adolescente, ninguém falava de aquecimento global. Hoje, já se vê mudanças.
EXAME.com - Em momento de crise, a preocupação com o meio ambiente é mandado pra escanteio. Como trazer o debate ambiental para o centro da gestão dos países?
Suzana Kahn - Meio ambiente é uma questão muito mais estratégica do que uma coisa conjuntural. E este não me parece ser o foco da Fazenda. Mas deveria ser estratégia de desenvolvimento do país. Corremos o risco de chegar a um paradoxo de, mantendo o modelo atual, acabemos por comprometer nosso desenvolvimento no futuro. Porque se a gente chegar daquia há alguns anos completamente sucateados, vamos só importar painel solar da China, como já fazemos, a pá eólica vai vir de não sei onde...É uma visão muito míope. Temos que olhar além. Porque se não olharmos além, alguém está se preparando e vamos ter que engolir, vamos virar colônia dos países que estão crescendo.
Quando a gente quis fazer algo bem feito, a gente fez. Quando a Petrobras resolveu avançar no offshore, a gente virou campeão nisso. Quando houve a decisão de investir no álcool, viramos campeão também. Mas aí descançamos, e outros países foram avançando, e ejá estão chegando à segunda geração, enquanto ficamos patinando. Fala isso parta o Brasil. Linhas claras para invertir e pegar essa onda das renováveis e reduzir pressão sobre o recursos naturais. É um processo inevitável, independente das questões climáticas. É inevitável porque os recursos vão acabar um dia.
Foto: Suzana Kahn (por Vanessa Barbosa)
Fonte: Exame.com
Ministros y secretarios del medio ambiente del Brasil, China, India y Sudáfrica, reunidos en la ciudad brasileña de Foz do Iguaçu (15 y 16 de septiembre), pidieron un mayor compromiso de los países desarrollados para reducir el efecto invernadero, además de disposiciónfinanciera para cumplir los acuerdos firmados en la Plataforma de Durban.
Las declaraciones se hicieron durante la XVI Reunión Ministerial sobre Cambios Climáticos del Grupo Basic –bloque formado por los cuatro países para discutir temas relacionados con la Convención Marco de las Naciones Unidas sobre el Cambio Climático. El objetivo del encuentro fue discutir la postura del bloque en la próxima Conferencia de las Partes sobre Cambio Climático, COP19, en Polonia (11 a 22 de noviembre).
Los ministros destacaron que la responsabilidad por el cambio climáticoes de todos los países, pero que es preciso considerar la contribución histórica de cada uno al agravamiento del problema, tomando en cuenta las circunstancias y necesidades de desarrollo nacionales en un marco de equidad y sostenibilidad.
Eduardo Viola, del Instituto de Relaciones Internacionales de la Universidad de Brasilia, cuestionó la efectividad de la reunión.
“El modelo de negociación de las conferencias de la ONU sobre el clima (COP) está desgastado y Basic es una coalición disfuncional debido a la posición conservadora de la India, seguida de una inclinación conservadora de Sudáfrica”, dice a SciDev.Net.
Según Viola, el eje de un acuerdo climático consistente depende de las negociaciones entre las súper potencias: Estados Unidos, Unión Europea y China. “Las perspectivas de una negociación entre esos países en un futuro próximo son todavía limitadas”, agrega.
La heterogeneidad de las naciones en desarrollo es otro problema. “Los países del Consejo de Cooperación del Golfo, por ejemplo, tienen las mayores emisiones mundiales per capita y son considerados países en desarrollo. Ya Francia y Portugal, países desarrollados, tienen menores índices de emisiones per capita que Brasil y China”, dice.
En su opinión, la Conferencia de Varsovia será una más de una serie de profundos impasses que se suceden hace décadas.
Andrea Santos, secretaria ejecutiva del Panel Brasileño de Cambio Climático, coincide en que la falta de ambición ha marcado presencia en las negociaciones de las COP.
“La inacción y atraso en la adopción de un tratado global e incluso de políticas nacionales con un nivel de ambición considerable, reduce las posibilidades de acción y eleva el tamaño de la cuenta, tanto monetaria como ambiental y humana”, dice a SciDev.Net.
Para ella, las COP deberían enfocarse en directrices para las multinacionales, las mayores emisoras de gases de efecto invernadero, “y no en metas inalcanzables para los países, que tienen que administrar intereses múltiples y la propia competencia interna, lo que dificulta cualquier esfuerzo por cambiar de comportamiento”.
Foto: GOVBA / Flickr
Fonte: SciDev. Net
Por Karina Toledo, de Londres
Caso as emissões de gases do efeito estufa continuem crescendo às atuais taxas ao longo dos próximos anos, a temperatura do planeta poderá aumentar até 4,8 graus Celsius neste século – o que poderá resultar em uma elevação de até 82 centímetros no nível do mar e causar danos importantes na maior parte das regiões costeiras do globo.
O alerta foi feito pelos cientistas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), da Organização das Nações Unidas (ONU), que divulgaram no dia 27 de setembro, em Estocolmo, na Suécia, a primeira parte de seu quinto relatório de avaliação (AR5). Com base na revisão de milhares de pesquisas realizadas nos últimos cinco anos, o documento apresenta as bases científicas da mudança climática global.
De acordo com Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP) e um dos seis brasileiros que participaram da elaboração desse relatório, foram simulados quatro diferentes cenários de concentrações de gases de efeito estufa, possíveis de acontecer até o ano de 2100 – os chamados “Representative Concentration Pathways (RCPs)”.
“Para fazer a previsão do aumento da temperatura são necessários dois ingredientes básicos: um modelo climático e um cenário de emissões. No quarto relatório (divulgado em 2007) também foram simulados quatro cenários, mas se levou em conta apenas a quantidade de gases de efeito estufa emitida. Neste quinto relatório, nós usamos um sistema mais completo, que leva em conta os impactos dessas emissões, ou seja, o quanto haverá de alteração no balanço de radiação do sistema terrestre”, explicou Artaxo, que está em Londres para a FAPESP Week London, onde participou de um painel sobre mudança climática.
O balanço de radiação corresponde à razão entre a quantidade de energia solar que entra e que sai de nosso planeta, indicando o quanto ficou armazenada no sistema terrestre de acordo com as concentrações de gases de efeito estufa, partículas de aerossóis emitidas e outros agentes climáticos.
O cenário mais otimista prevê que o sistema terrestre armazenará 2,6 watts por metro quadrado (W/m2) adicionais. Nesse caso, o aumento da temperatura terrestre poderia variar entre 0,3 °C e 1,7 °C de 2010 até 2100 e o nível do mar poderia subir entre 26 e 55 centímetros ao longo deste século.
“Para que esse cenário acontecesse, seria preciso estabilizar as concentrações de gases do efeito estufa nos próximos 10 anos e atuar para sua remoção da atmosfera. Ainda assim, os modelos indicam um aumento adicional de quase 2 °C na temperatura – além do 0,9 °C que nosso planeta já aqueceu desde o ano 1750”, avaliou Artaxo.
O segundo cenário (RCP4.5) prevê um armazenamento de 4,5 W/m2. Nesse caso, o aumento da temperatura terrestre seria entre 1,1 °C e 2,6 °C e o nível do mar subiria entre 32 e 63 centímetros. No terceiro cenário, de 6,0 W/m2, o aumento da temperatura varia de 1,4 °C até 3,1 °C e o nível do mar subiria entre 33 e 63 centímetros.
Já o pior cenário, no qual as emissões continuam a crescer em ritmo acelerado, prevê um armazenamento adicional de 8,5 W/m2. Em tal situação, segundo o IPCC, a superfície da Terra poderia aquecer entre 2,6 °C e 4,8 °C ao longo deste século, fazendo com que o nível dos oceanos aumente entre 45 e 82 centímetros.
“O nível dos oceanos já subiu em média 20 centímetros entre 1900 e 2012. Se subir outros 60 centímetros, com as marés, o resultado será uma forte erosão nas áreas costeiras de todo o mundo. Rios como o Amazonas, por exemplo, sofrerão forte refluxo de água salgada, o que afeta todo o ecossistema local”, disse Artaxo.
Segundo o relatório AR5 do IPCC, em todos os cenários, é muito provável (90% de probabilidade) que a taxa de elevação dos oceanos durante o século 21 exceda a observada entre 1971 e 2010. A expansão térmica resultante do aumento da temperatura e o derretimento das geleiras seriam as principais causas.
O aquecimento dos oceanos, diz o relatório, continuará ocorrendo durante séculos, mesmo se as emissões de gases-estufa diminuírem ou permanecerem constantes. A região do Ártico é a que vai aquecer mais fortemente, de acordo com o IPCC.
Segundo Artaxo, o aquecimento das águas marinhas tem ainda outras consequências relevantes, que não eram propriamente consideradas nos modelos climáticos anteriores. Conforme o oceano esquenta, ele perde a capacidade de absorver dióxido de carbono (CO2) da atmosfera. Se a emissão atual for mantida, portanto, poderá haver uma aceleração nas concentrações desse gás na atmosfera.
“No relatório anterior, os capítulos dedicados ao papel dos oceanos nas mudanças climáticas careciam de dados experimentais. Mas nos últimos anos houve um enorme avanço na ciência do clima. Neste quinto relatório, por causa de medições feitas por satélites e de observações feitas com redes de boias – como as do Projeto Pirata que a FAPESP financia no Atlântico Sul –, a confiança sobre o impacto dos oceanos no clima melhorou muito”, afirmou Artaxo.
Acidificação dos oceanos
Em todos os cenários previstos no quinto relatório do IPCC, as concentrações de CO2 serão maiores em 2100 em comparação aos níveis atuais, como resultado do aumento cumulativo das emissões ocorrido durante os séculos 20 e 21. Parte do CO2 emitido pela atividade humana continuará a ser absorvida pelos oceanos e, portanto, é “virtualmente certo” (99% de probabilidade) que a acidificação dos mares vai aumentar. No melhor dos cenários – o RCP2,6 –, a queda no pH será entre 0,06 e 0,07. Na pior das hipóteses – o RCP8,5 –, entre 0,30 e 0,32.
“A água do mar é alcalina, com pH em torno de 8,12. Mas quando absorve CO2 ocorre a formação de compostos ácidos. Esses ácidos dissolvem a carcaça de parte dos microrganismos marinhos, que é feita geralmente de carbonato de cálcio. A maioria da biota marinha sofrerá alterações profundas, o que afeta também toda a cadeia alimentar”, afirmou Artaxo.
Ao analisar as mudanças já ocorridas até o momento, os cientistas do IPCC afirmam que as três últimas décadas foram as mais quentes em comparação com todas as anteriores desde 1850. A primeira década do século 21 foi a mais quente de todas. O período entre 1983 e 2012 foi “muito provavelmente” (90% de probabilidade) o mais quente dos últimos 800 anos. Há ainda cerca de 60% de probabilidade de que tenha sido o mais quente dos últimos 1.400 anos.
No entanto, o IPCC reconhece ter havido uma queda na taxa de aquecimento do planeta nos últimos 15 anos – passando de 0,12 °C por década (quando considerado o período entre 1951 e 2012) para 0,05°C (quando considerado apenas o período entre 1998 e 2012).
De acordo com Artaxo, o fenômeno se deve a dois fatores principais: a maior absorção de calor em águas profundas (mais de 700 metros) e a maior frequência de fenômenos La Niña, que alteram a taxa de transferência de calor da atmosfera aos oceanos. “O processo é bem claro e documentado em revistas científicas de prestígio. Ainda assim, o planeta continua aquecendo de forma significativa”, disse.
Há 90% de certeza de que o número de dias e noites frios diminuíram, enquanto os dias e noites quentes aumentaram na escala global. E cerca de 60% de certeza de que as ondas de calor também aumentaram. O relatório diz haver fortes evidências de degelo, principalmente na região do Ártico. Há 90% de certeza de que a taxa de redução da camada de gelo tenha sido entre 3,5% e 4,1% por década entre 1979 e 2012.
As concentrações de CO2 na atmosfera já aumentaram mais de 20% desde 1958, quando medições sistemáticas começaram a ser feitas, e cerca de 40% desde 1750. De acordo com o IPCC, o aumento é resultado da atividade humana, principalmente da queima de combustíveis fósseis e do desmatamento, havendo uma pequena participação da indústria cimenteira.
Para os cientistas há uma “confiança muito alta” (nove chances em dez) de que as taxas médias de CO2, metano e óxido nitroso do último século sejam as mais altas dos últimos 22 mil anos. Já mudanças na irradiação solar e a atividade vulcânica contribuíram com uma pequena fração da alteração climática. É “extremamente provável” (95% de certeza) de que a influência humana sobre o clima causou mais da metade do aumento da temperatura observado entre 1951 e 2010.
“Os efeitos da mudança climática já estão sendo sentidos, não é algo para o futuro. O aumento de ondas de calor, da frequência de furacões, das inundações e tempestades severas, das variações bruscas entre dias quentes e frios provavelmente está relacionado ao fato de que o sistema climático está sendo alterado”, disse Artaxo.
Impacto persistente
Na avaliação do IPCC, muitos aspectos da mudança climática vão persistir durante muitos séculos mesmo se as emissões de gases-estufa cessarem. É “muito provável” (90% de certeza) que mais de 20% do CO2 emitido permanecerá na atmosfera por mais de mil anos após as emissões cessarem, afirma o relatório.
“O que estamos alterando não é o clima da próxima década ou até o fim deste século. Existem várias publicações com simulações que mostram concentrações altas de CO2 até o ano 3000, pois os processos de remoção do CO2 atmosférico são muito lentos”, contou Artaxo.
Para o professor da USP, os impactos são significativos e fortes, mas não são catastróficos. “É certo que muitas regiões costeiras vão sofrer forte erosão e milhões de pessoas terão de ser removidas de onde vivem hoje. Mas claro que não é o fim do mundo. A questão é: como vamos nos adaptar, quem vai controlar a governabilidade desse sistema global e de onde sairão recursos para que países em desenvolvimento possam construir barreiras de contenção contra as águas do mar, como as que já estão sendo ampliadas na Holanda. Quanto mais cedo isso for planejado, menores serão os impactos socioeconômicos”, avaliou.
Os impactos e as formas de adaptação à nova realidade climática serão o tema da segunda parte do quinto relatório do IPCC, previsto para ser divulgado em janeiro de 2014. O documento contou com a colaboração de sete cientistas brasileiros. Outros 13 brasileiros participaram da elaboração da terceira parte do AR5, que discute formas de mitigar a mudança climática e deve sair em março.
De maneira geral, cresceu o número de cientistas vindos de países em desenvolvimento, particularmente do Brasil, dentro do IPCC. “O Brasil é um dos países líderes em pesquisas sobre mudança climática atualmente. Além disso, o IPCC percebeu que, se o foco ficasse apenas nos países desenvolvidos, informações importantes sobre o que está acontecendo nos trópicos poderiam deixar de ser incluídas. E é onde fica a Amazônia, um ecossistema-chave para o planeta”, disse Artaxo.
No dia 9 de setembro, o Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC) divulgou o sumário executivo de seu primeiro Relatório de Avaliação Nacional (RAN1). O documento, feito nos mesmos moldes do relatório do IPCC, indica que no Brasil o aumento de temperatura até 2100 será entre 1 ° e 6 °C, em comparação à registrada no fim do século 20. Como consequência, deverá diminuir significativamente a ocorrência de chuvas em grande parte das regiões central, Norte e Nordeste do país. Nas regiões Sul e Sudeste, por outro lado, haverá um aumento do número de precipitações.
“A humanidade nunca enfrentou um problema cuja relevância chegasse perto das mudanças climáticas, que vai afetar absolutamente todos os seres vivos do planeta. Não temos um sistema de governança global para implementar medidas de redução de emissões e verificação. Por isso, vai demorar ainda pelo menos algumas décadas para que o problema comece a ser resolvido”, opinou Artaxo.
Para o pesquisador, a medida mais urgente é a redução das emissões de gases de efeito estufa – compromisso que tem de ser assumido por todas as nações. “A consciência de que todos habitamos o mesmo barco é muito forte hoje, mas ainda não há mecanismos de governabilidade global para fazer esse barco andar na direção certa. Isso terá que ser construído pela nossa geração”, concluiu.
Foto: Oceano Ártico: Nasa
Fonte: Agência Fapesp