Seca no Rio Negro, em 2010, um dos principais afluentes do Rio Amazonas (Foto: Euzivaldo Queiroz/A Crítica/Reuters)
Temperaturas mais altas e mudanças no regime de chuva ameaçam bioma.
Desmatamento e queimadas têm que diminuir, afirma pesquisador.
Uma compilação de estudos de cientistas brasileiros e do exterior aponta que a expansão agropecuária e as mudanças climáticas já causam distúrbios na bacia amazônica -- principalmente na borda da floresta, nos estados do Pará, Rondônia e Mato Grosso.
A maioria dos cientistas afirma que as mudanças climáticas estão sendo responsáveis pela alteração do habitat de diversos animais, levando-os a migrarem para locais onde possam encontrar condições de vida mais favoráveis à sua espécie. Mas uma nova pesquisasugere que alguns não estão conseguindo acompanhar a velocidade do aquecimento global, o que pode levar à redução do número e até à extinção de muitos representantes da fauna europeia.
Se as mudanças climáticas têm causado uma elevação na temperatura terrestre, como explicar os invernos demasiadamente frios que algumas regiões do planeta têm experimentado nos últimos anos? Essa pergunta, constantemente feita pelos céticos do clima para desarmar aqueles que acreditam no aquecimento global, pode ser respondida poruma nova pesquisa, publicada na última sexta-feira (13) no periódico Environmental Research Letters. E para os que esperavam que as mudanças climáticas pudessem trazer invernos mais amenos, os resultados do relatório podem apresentar más notícias.
A análise, realizada no Hemisfério Norte por cientistas do grupo Atmospheric and Environmental Research (AER), das Universidades de Massachusetts e do Alaska, sugere que, ao contrário do que se imagina, as mudanças climáticas podem estar intensificando o padrão climático das estações, fazendo com o que o calor exorbitante dos verões cause um aumento no índice de precipitação de neve no outono e leve a um inverno anormalmente frio.
Essa explicação vai contra a teoria de que estas alterações extremas eram causadas exclusivamente pela variabilidade climática de cada região. “Nas últimas duas décadas, as tendências de resfriamento em grande escala existiram em grandes extensões no leste da América do Norte e no norte da Eurásia. Argumentamos que essa tendência imprevista não é apenas causada pela variabilidade interna”, declararam os pesquisadores.
Para compreender a relação entre os fenômenos, deve-se lembrar que, desde o final do século XIX e mais intensamente nos últimos 40 anos, as mudanças climáticas têm elevado a temperatura média da Terra, segundo grande parte dos cientistas internacionais. Esse aquecimento, que provoca o aumento exagerado das temperaturas no verão, faz com que haja mais evaporação de água, decorrente do derretimento das geleiras.
Essa evaporação, por sua vez, aumenta a umidade do ar até o outono, e causa mais precipitação, que nas temperaturas mais frias desta estação, cai sob forma de neve. De fato, o relatório dos cientistas aponta que a média de precipitação, e, consequentemente, a cobertura de neve tem aumentado no norte da Eurásia.
“Possivelmente o aumento [da superfície] de águas abertas sobre o Oceano Ártico significa que mais umidade pode estar evaporando na atmosfera, levando ao aumento de eventos de precipitação”, observou Judah Cohen, principal autor do relatório.
Os estudiosos acreditam que essa elevação na cobertura de neve no norte do continente aumente a ‘fase negativa’ da Oscilação do Ártico (OA), um padrão de pressão atmosférica que tem o poder de ‘movimentar’ o ar frio no continente. Quando a OA está em sua ‘fase negativa’, a pressão mais alta fica sobre a região ártica, ‘empurrando’ o ar frio para as latitudes medianas da Eurásia.
“Quando você tem mais cobertura de neve em outubro na Eurásia, você tem essa fase negativa da Oscilação Ártica. Quando você tem uma Oscilação Ártica negativa, o sul do Canadá, o leste dos EUA e o oeste da Europa tendem a ter invernos mais frios”, declarou o autor.
“Na minha cabeça, não há dúvida de que o globo está ficando mais quente e que isso favorecerá temperaturas mais altas em todas as estações e em todos os lugares; no entanto, eu realmente acho que a tendência crescente na cobertura de neve levou ao resfriamento regional como discutido no relatório, e não por que isso não continuará em um futuro próximo”, opinou Cohen.
“Além disso, se continuar a ficar muito mais quente no outono, a precipitação que atualmente cai como neve cairá como chuva, eliminando o resfriamento no inverno”, acrescentou o cientista.
Segundo o pesquisador, a nova descoberta ajudará a melhorar as previsões sobre o que está acontecendo com o clima através de dados mais detalhados. “Mostramos no relatório como usar a cobertura de neve em uma previsão sazonal pode fornecer uma previsão mais hábil ou precisa”, enfatizou.
Segundo ele, os atuais modelos de padrões climáticos conseguem explicar bem as mudanças que ocorrem no verão, na primavera e no outono, mas não as que ocorrem no inverno, já que não conseguem esclarecer a relação entre as precipitações outonais e as temperaturas invernais.
“As projeções dos demais modelos para as outras três estações são muito boas. A única estação que não está indo tão bem é o inverno”, comentou Cohen. “Os modelos não simulam bem a ligação entre a neve do outono eurasiano e as temperaturas de inverno”, concordou Jason Furtado, coautor do documento.
“Sem simular corretamente a ligação de padrões climáticos de inverno e a variabilidade da queda de neve, os modelos usados atualmente pelos centros governamentais deixam escapar uma importante influência no inverno e continuarão, portanto, a serem deficientes na predição da temperatura de inverno ou de escalas de tempo sazonais, e ainda mais em escalas de tempo decadais”, alertou Cohen.
Apesar da descoberta, o estudioso ressaltou que a variabilidade natural continuará a ter seu papel no clima, e ainda haverá verões e invernos mais brandos, como o que ocorre atualmente no Hemisfério Norte. “Até agora o padrão negativo de Oscilação do Ártico não se estabeleceu, e parece ser o padrão oposto aos últimos dois invernos”, concluiu.
Imagem: Nevasca em Chicago, Estados Unidos, em fevereiro de 2011/J.Tuttle/Wikimedia Commons
(17/01/2012 fonte Instituto Carbono Brasil)
As mudanças climáticas, além de provocarem os fenômenos climáticos extremos, também são responsáveis por alterações em muitos ecossistemas e biomas de nosso planeta. Uma dessas alterações foi apresentada em um novo relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), que revela que em 24 anos, a temperatura superficial do mar aumentou cerca de 1,5ºC.
O documento, intitulado Rumo à Recuperação e Sustentabilidade dos Grandes Ecossistemas Marinhos do Mundo durante as Alterações Climáticas, foi publicado no início de dezembro, na 17ª Conferência das Partes (COP17) em Durban, na África do Sul, e apresenta os dados de 64 grandes ecossistemas marinhos (GEMs).
Segundo a análise, entre 1982 e 2006, a temperatura de 61 dentre os 64 GEMs – dos quais três estão no Brasil – aumentou em até1,5ºC. E em 18 das áreas cobertas por esses ecossistemas, a temperatura está aumentando de duas a quatro vezes mais rápido do que as tendências de aquecimento registradas pelo Painel Intergovernamental das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (IPCC).
Esse rápido aumento da temperatura superficial do mar pode levar a uma alteração no movimento de ascensão dos nutrientes das águas mais profundas e frias, chamado de ressurgência.
Esse processo é responsável por abastecer grande parte das cadeias alimentares marinhas, e sua modificação pode alterar as características de diversos ecossistemas, diminuindo inclusive a produção de peixes que abastecem os seres humanos.
Consequentemente, esse aquecimento poderá afetar a vida de bilhões de pessoas que dependem do mar como fonte de alimentação, o que ocorre, sobretudo, nos países em desenvolvimento situados nas latitudes mais quentes da África, Ásia e América Latina.
O estudo indica também que, embora a quantidade de peixes aumente com a elevação das temperaturas, os animais diminuem de tamanho, o que constitui um problema para a reprodução de outras espécies e pode acarretar em um desequilíbrio ambiental.
Para combater os problemas desencadeados pelo aquecimento da superfície marítima, o relatório recomenda algumas providências, como estabelecer níveis sustentáveis de pesca nas regiões mais afetadas.
Além disso, a pesquisa sugere que devem ser tomadas medidas de precaução para manter a pesca marinha, restaurar e proteger os habitats costeiros, incluindo importantes sumidouros de carbono, e reduzir a carga de poluição eliminada nos mares.
“As mudanças climáticas são uma questão global muito importante e crítica. Sem ação, as alterações do clima poderiam anular décadas de progresso no desenvolvimento destes países e minar os esforços para a promoção do desenvolvimento sustentável”, alertou VeerleVandeweerd, diretora do grupo de meio ambiente e energia do PNUD.
Em alguns locais, como o Mar Amarelo, que banha o norte da China e o oeste da Coreia do Sul e do Norte, já há programas de ação estratégica (SAPs), que procuram tomar iniciativas para lidar com os problemas causados pelo aquecimento das águas marítimas superficiais.
No caso do SAP do Mar Amarelo, há, por exemplo, acordos entre os países responsáveis para reduzir a pesca em 33%, redirecionar os pescadores para outros meios de subsistência e reduzir a eliminação de lixo no mar.
(04/01/2012 fonte Instituto Carbono Brasil)
* Crédito das Imagens: Lucas B. Muller